quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Reflexão de um ano que se finda




Como seres humanos, estamos em constante evolução. Que pena não compreendermos tudo como gostaríamos, de um dia para o outro, no exato momento em que as diferenças se realizam, o egoísmo, as dificuldades, os atormentos. (Não seriam assim se, por ventura, compreendêssemos.) No entanto, não conhecemos o ser humano, a sua mente perturbadora, provocante, misteriosa. Não sabemos quem somos nós. Limites nos surpreendem, pois para cada um, ele é de um tamanho, tem o tempo certo, a dimensão própria. Provocam em nós reações como a raiva, a impetuosidade, o medo, o terror; como também, muitas vezes, nos faz amadurecer, nos dá a oportunidade da superação, da solução para os problemas, do crescimento individual.
Em pleno século XXI, quando as tecnologias alcançam avanço inimaginável e a comunicação supera distâncias e limites mundiais, há pessoas que não sabem pensar; que embora, não compreendam, não buscam compreender. Aceitam as coisas como elas são, não questionam, não criticam, não transformam. Mentes quietas demais, passivas demais, acostumadas a dizer sim, a abaixar a cabeça e a concordar simplesmente com o poder das hierarquias da sociedade em que vivem.
Quem somos nós? Não deveríamos ser todos iguais? Não digo que deveríamos brigar ou guerrear quando as opiniões são opostas ou quando o outro nos ofende, nos incomoda ou nos calunia. Devemos sim questionar, gerar debates construtivos, exigir respeito. O respeito sim valoriza o ser humano, o impulsiona a evoluir. Nos dá o senso de dignidade e a autonomia de sermos unos, cada um com sua característica sempre favorável ao mundo, a liberdade de nos expressar ao universo a própria cultura, a diversidade necessária, a essência de nós mesmos.
Entristece-me a hipocrisia daqueles que, individualistas, professam palavras de amor ao próximo, perdão e conciliação, quando julgam sem conhecer, condenam e praticam a injustiça. Quem são meus amigos? Aqueles que me dizem o que pensam, aqueles que falam pra mim o que pensam ao meu respeito. Não me considerem amiga se eu falei “pelas costas”, se feri injustamente. Eu também faço parte desta raça, seres humanos em constante evolução. Mas... que bom o sentimento do arrependimento, do reconhecimento e da humildade: a chance que todos tem de se agarrar ao futuro e se desapegar do passado, o verdadeiro perdão, o perdoar a si mesmo.
Infelizmete, como as atitudes alheias nos atingem, como eu gostaria de não ser tão sensível e não sentir toda esta carga que corrói e destrói! No entanto, é hora de deixar pra trás o lixo e limpar a nova estrada. É tempo de acreditar no mundo, no outro, em nós, porque as minhas lágrimas também são de alegria, pois reconheço o bem de cada um. O bem que me proporcionaram, a oportunidade de me rever e de me buscar melhor. Pois, apesar de tudo, a sensibilidade é parte de mim. É ela que me faz criar, querer, buscar. É a sensibilidade que me dá o direito e o dom de sorrir, pintar, cantar, escrever, me expressar, em arte, o dever e a missão de ser quem sou. “Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar!”
Porque é a arte, nas suas diversas manifestações, que faz com que aprendamos a compreender o que não compreendemos, a sentir o mundo com compaixão, vontade de fazer dele o melhor lugar pra se viver. É a arte que me faz sorrir, querer lutar por respeito, dignidade, autonomia e paz. A arte propicia o entusiasmo e a força da criação e, consequentemente, da transformação.
Eu desejo para o novo ano que a arte esteja em nós e que nós a pratiquemos; a arte do amor, do exaltar a natureza, do abraço sincero, do aperto de mão. A arte da vida, da morte, dos que trabalham, que lutam, que provocam. A arte de acreditar que a vida não tem fim.
Que sejamos mais críticos e mais reflexivos. Mais auto-críticos e mais auto-reflexivos. Que sejamos mais sinceros, mais honestos, mais leais e mais amigos. Para que não passemos ao outro a obrigação de nos enxergar como gostaríamos e nem de mudar o meio em que vivemos da forma que ele próprio quer.
Eu desejo para o ano novo que a sensibilidade humana não dê aos homens a condição de vítima, mas a condição de seres ativos, atuantes e críticos na sociedade em que vivem. Que a arte seja, divinamente, fonte de inspiração e mudança positiva e que os homens sejam sensíveis o suficiente para entender e amar o próximo e, dentro do senso da igualdade, da fraternidade e da fé, viver em paz.

Feliz Natal, meus amigos!
Alice Xavier