segunda-feira, 6 de junho de 2011

Levanta Poeira











"Quero meu forró morando na literatura e desenhando arquitetura na cultura popular"

Não tem algo que me fascina tanto quanto a cultura brasileira. Arte, música e literatura fazem parte da meu cotidiano e o que diz respeito ao Brasil corre no meu sangue como a história da minha própria vida. Viajar pelo Brasil e conhecer um pouco mais dessa cultura são algumas das coisas que mais amo fazer, assim como escrever sobre o que vi, vivi e conheci. Desta vez, estou em Aracaju, Sergipe, na casa de grandes amigos e, como é Junho, época das tradicionais festas juninas no Nordeste, não poderia deixar de apreciar melhor as quadrilhas da região.
Assim que cheguei aqui, sábado dia 04 de Junho, me encantei com as casas enfeitadas de bandeirinhas e balões de São João. O envolvimento dos sergipanos com as festas de junho é imenso e eu não imaginava quão interessante era isso. Soube, então, que haveria em Japaratuba, pequena cidade há 60 km de Aracaju, a final do concurso de quadrilhas Levanta Poeira. Conhecendo minha simpatia, meus amigos fizeram questão de me levar até lá para prestigiar o evento. Só por isso já valeu meu passeio, minha vinda até aqui.
Os dançarinos eram pessoas simples. Estampavam no rosto, além da maquiagem tão bem desenhada e cheia de brilhos, a ansiedade e o nervosismo pela apresentação que fariam. As roupas entregavam o talento artísitico, na confecção de cada escolha de tecido, do entermeio das cores, do brilho e dos babados que faziam girar as damas numa harmonia perfeita, num movimento que encanta quem está assistindo e contagia os nossos próprios quadris. A minha vontade era de me misturar aos grupos, arrumar um par e dançar também. Impossível. As coreografias eram muito bem ensaiadas e todos os pares formavam a combinação exata para a realização plena da quadrilha.
Para cada grupo participante, um cenário diferente, com chita, “boi da cara preta” e muita música, forró e percussão. Cada apresentação uma história, uma encenação. Os dançarinos se transformavam em atores: noivos, padres, cangaceiros e as cores do Brasil sempre em exaltação. Em cada rosto, um sorriso aberto, sincero, uma energia boa de quem sentia alegria. Alegria verdadeira, satisfação em estar ali dançando, não em busca apenas da vitória, mas participando com amor e devoção por sua cultura, como os velhos carnavalescos em dias de carnaval.
De máquina na mão, eu fotografava tudo, cada detalhe das roupas e acessórios, o cenário tão bem montado, o boi que se agitava no meio do salão. E os dançarinos pousavam pra mim como seu eu fosse levá-los para o mundo, com quem pedisse pra que eu divulgasse a sua arte, a sua música e a sua cultura, tão brasileira e tão pouco conhecida por nós brasileiros, costumados a computador, carne e celular.

Em Japaratuba, eu respirei arte, música e cultura brasileira de verdade, porque a simplicidade do brasileiro é isso, esse instante de alegria e cor que dança e canta em cantos desconhecidos e que me dá o prazer de fazer parte desse país tão mágico e tão bonito.

Alice Xavier