domingo, 13 de dezembro de 2015

Carta aos meus alunos e um convite à reflexão: "2015: Evoluímos?!"



Pluralidade cultural. Manifestações culturais. Diferenças.
Diferenças que se somam, que se misturam, que se respeitam. 
Respeitam?
O ano de 2015, ano internacional da luz, acendeu uma lâmpada na cabeça de muita gente. Chegamos no tempo da reflexão. Do refazer. Do desfazer conceitos e preconceitos. Do esclarecer filosofias. Do jogar as cartas na mesa. De repensar: sou ou não sou? Do discutir em redes sociais. 
Tempo de agressões gratuitas, vídeo íntimo na internet, todo mundo no whatsapp.
Feministas de um lado, conservadores de outro. Negros de um lado, brancos de outro. Aborto, mulher, maconha, maioridade penal, empoderamento feminino, suco verde. Dilma, PT, PSDB, caminhoneiro, aluno, professor. 
"Boneca na mão de menino, vale?"
"E violência contra a mulher, é normal?"
"Não comam carne nas segundas feiras!"
"Não comam carne!"
"Não comam!"
"Ou você não quer o corpo perfeito da Giselle Bundchen?"

Pronto! Chegamos no futuro. O futuro de Marty Mcfly e Doutor Brow, de “De volta para o futuro”. 
No entanto... uma indagação: evoluímos?
Evolução é assunto pra muitas aulas.
Enquanto isso, terrorismo em Paris.
Falta água.
E o mosquitinho da dengue... alcançou o topo da cadeia alimentar.
Será que já descobriram a vacina contra o Ebola?
Meninos negros foram vítimas de genocídio pela polícia semana passada.
Uma ciclista foi assassinada em assalto.
Filha matou pai em algum lugar.
Pai estuprou a filha bem aqui perto.
Uma criança, de três anos, foi encontrada morta numa praia da Turquia, vítima da crise migratória no outro lado do Atlântico.
Índios foram exterminados no Brasil.
Botaram fogo no terreiro de candomblé e foi Deus quem mandou?
"Matem a presidente! A culpa de tudo é dela! Digam não à corrupção!"

Quem me dera, para os problemas do Brasil, houvesse um só culpado!
E quem me dera o Brasil fosse mesmo feito de pluralidade cultural. E que de cultura, pudéssemos viver, nos alimentar. Quem me dera, nós pudéssemos reconhecer no outro um pouco de nós; Descobrir semelhanças nas histórias alheias. Quem me dera se você me respeitasse e que eu respeitasse você.
Compreender o que é cultura é saber olhar pra origem do outro, para a cor do outro, para o outro como parte de nós mesmos. Embora diferentes, ele sou eu, eu sou ele. Você sou eu e eu sou você. E assim, nos tornaríamos um só se soubéssemos nos respeitar.

Não, não evoluímos, infelizmente. 
A educação, "a melhor arma pra mudar o mundo", ainda não é prioridade. 
Os meus heróis vêm morrendo, todos, de overdose. 
Ou então, foram torturados na ditadura. 
Não a ditadura de cinqüenta anos atrás, não.
A ditadura de hoje. Essa que impede que a gente estude, que a gente pense, que a gente se expresse. Que proíbe a gente de sentir, de gritar, de mostrar as pernas. A ditadura que impede que sejamos negros, que sejamos gordos, tímidos, hiperativos, quietos ou inquietos, diferentes.
Não evoluímos porque você insiste em repetir os mesmos erros.
Porque eu sei o que é certo e eu me recuso a fazê-lo porque o errado é mais gostoso.
Não evoluímos porque somos todos egoístas e deixamos a água derramar na nossa cabeça durante o banho, enquanto muitos andam quilômetros debaixo de sol quente pra encontrar uma gota que lhe mate a sede.

De repente sinto tanto calor. 
De repente, derrubaram 2000 árvores por minuto, só na Amazônia. 
Mataram todos os peixes do Rio Doce. 
Não há rio e a lama alcançou o mar.
Ah... quem me dera houvesse UM só culpado.

O sacrifício seria certo e encontraríamos a salvação do mundo.

Ironias à parte, o ano termina com o meu coração dilacerado. No entanto, poucos dias pra acabar o ano e eu ainda tenho esperança. Porque a esperança cresce quando a gente acredita na chama da vela, no ramo da estrada, no que minha mãe ensinou, no que Cristo, Buda ou orixás pregaram.

A esperança cresce quando eu vejo o brilho dos seus olhos, meninos e meninas, senhoras e senhores que por nós passam todos os anos. Na ânsia por aprender, ou por encontrar amigos. Na ânsia por encontrar a luz no fim do túnel, a solução dos problemas, ouvidos pra te ouvir, coração pra te acolher... na ânsia por uma vida melhor... alunos e alunas nos enriquecem com suas culturas e nos faz, sim, ter esperança.

Esperança... Por mais que os fatos negativos assombrem nossa cabeça e entristeça os nossos corações, por mais que a gente viva sentindo medo, que a gente viva chorando, brigando... eu tenho esperança.

Eu tenho esperança porque em 2015, nasceram em média 200.000 crianças no mundo. Todas elas com sua pureza e sua energia renovadora. Todas elas trazendo esperança. 
Além disso...
Embora a sociedade ainda não entenda o valor da cultura e da educação, alunos ocuparam as escolas em São Paulo pra impedir que elas sejam fechadas pelo governo.
Alunos de Goiânia também estão ocupando as escolas com o mesmo objetivo.
Professores continuam lutando por uma educação de qualidade.
Um escritor, alfabetizado aos 14 anos, está lançando seu oitavo romance.
Um gari formou sua filha em medicina.
Escola particular não pode mais impedir inclusão.
Uma brasileira foi premiada por pesquisa sem uso de animais.
Eu pintei mais quadros.
Meu marido aprendeu a meditar.
Meu filho, a desenhar.
O outro está me alcançando na altura.
Meu tio venceu um câncer.
Minha avó fez 91 anos, com saúde.
Ganhei mais uma sobrinha linda.
O Vitor escreveu poemas.
A Ilda voltou a estudar.
A dona Eliodora desenvolveu sua leitura.
O Kelvis está aprendendo a tocar violão.
O Igor começou uma vida nova.
A Letícia está mais falante.
Meu amigo largou as drogas.
Doutores da alegria fizeram sorrir crianças doentes nos hospitais.
Pessoas se apaixonaram.
Filhos voltaram pra casa.
Crianças foram adotadas.
Apesar do preconceito que ainda existe, o Brasil já permite casamento gay.
Tem gente ensinando música pra crianças carentes.
Mulheres denunciaram a violência doméstica.
Muitas botaram a boca no trombone e relataram os primeiros assédios e as violências sofridas por causa do machismo.
Muita justiça foi feita.
Muito amor também foi praticado.

Enfim... que as boas notícias se espalhem e nos contamine. 
Não é de um dia pro outro que mudaremos a nossa história. Que a gente não espere 2016 chegar para começar uma nova vida; para fazer diferente; para escolher um caminho melhor. Porque tudo depende das escolhas que fazemos, diariamente. 

Que a gente escolha ter esperança!
Que a gente escolha ser forte e transformar a nossa história.
Que a gente escolha ser melhor que o pai e a mãe foram lá atrás e não cometa os mesmos erros que eles cometeram. No entanto, que a gente saiba perdoá-los porque eles também estão aprendendo.
Que a gente escolha ter fé e aceitar o amor que existe, sim, pra que a gente viva e seja feliz!

Alice Xavier

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O silêncio das estrelas



a vida quando cansa
é assim:
a gente suspira.
depois de um tempo,
não há choro
nem reza
a gente esquece a letra daquela música
esquece de aguar as plantas
deseja um sono profundo
ou o silêncio das estrelas...

e lá se vão meus ais
todos chorados
não restaram um só pra contar história
guardei as palavras no vento
e elas foram achar morada
nas poesias
mundo afora.

Alice Xavier

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Rio Doce

By Chuvisco de Amor

É nosso meio
De viver
De crescer
De semear

Rio cheio
Rio doce
Água de beber

Água doce
Rio que corre
Para o mar
Onde estão seus peixes
A claridade
O seu pulsar

Quem foi que fez
Quem, meu Deus, desfez
A casa
as palavras no quadro negro
 a água, a água

Leva a lama
a cama
a chama
leva a esperança
e a menina que brincava no quintal

e a saudade
e as lembranças

água doce
sede amarga
sede

É nosso meio
De viver
De crescer
De semear

Água
Água
Por onde é que vai
Sua corrente transparente
E toda a sua gente
Pra onde é que vai

Alice Xavier


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O pior de mim

Por fim, não consegui...
e os anos se excedem
Eu recomeço novamente, sim
apesar do tempo que ficou para trás

Dói, infinitamente...

Está tudo escuro
e eu nem sei com quem estou falando
Está tão frio
e chega a arder aqui dentro
como se frio fosse feito de fogo
e toda chama fosse um pedaço de mim
que se esvai
no pior das minhas fraquezas.

Alice Xavier

sábado, 8 de agosto de 2015

meu pai (s)


Separando agora a propaganda do conteúdo, eu compartilho aqui um vídeo que me emocionou muito essa semana. Não só pelo Guga ser um ídolo pra mim, principalmente enquanto ser humano, mas pela similaridade de sua história com a minha. Por mais que a dor de não ter meu pai por perto, de não ter tido minha infância ao seu lado, de ter perdido a chance de pular em seus braços em cada chegada ou de lhe dar um abraço em cada partida, eu também tive "uma carrada de pais"... os pais que ganhei da vida!!!

Recordo a figura do meu avô, apontando nossos lápis com o canivete, ou ralando o queijo para o biscoito, ou enchendo as cuias com côco ralado e acúcar ou aguando as margaridas no jardim... imagens que traduzem, perfeitamente, o doce e constante gesto de paciência e dedicação aos netos/filhos. Amor inigualável... saudade!

E então... meu tio Nestor, confundindo firmeza e amor... nos olhos, no sorriso, no colo... na sempre missão de se fazer presente, com o maior talento de pai do mundo!

Depois meu Ju (Gilberto de Jesus) ... o abraço forte e a companhia que nunca faltou. Do seu jeito, diariamente, sabe ser pai e avô, com muito amor. Ele é e será minha certeza de que eu terei um pai pro resto da vida!

Como se não bastasse... os tios, os primos, os amigos... e meu padrinho Francisco Curado​... que entre as estrelas e um violão, me ensinou a deitar em seu colo e a acreditar no amor paterno. Mais que isso... a crer que eu nunca estarei só! Um pai amigo e que, mesmo estando longe, consegue ouvir meu coração e dizer as palavras certas!

Dentre tantos pais, há especialmente minha avó e minha mãe, que não hesitaram em ser pais, quando nos momentos em que o amor transbordava, era a razão que precisava prevalecer, fazendo delas, a grande força e o grande exemplo de equilíbrio e coragem na minha família!

Quanto ao meu pai de verdade... Eu o AMO sempre! Quando acordo e quando deito... quando o tempo passa e eu envelheço sem as experiências de filha... quando eu sinto o ar passar por minhas narinas e quando eu sinto o coração pulsar... quando eu quero rir ou quando preciso chorar...

DESEJO infinitamente que ele esteja em luz onde estiver e que possa sentir o meu amor.

E hoje, ao meu pai e aos tantos pais que a vida me deu... está aqui o meu coração e a minha homenagem! Por mais que o segundo domingo de agosto seja pra mim tão doído como é a dor da ausência desse homem (que vou admirar e guardar pra sempre) ... eu desejo que hoje seja um dia FELIZ!

Amo muito todos vocês! Muito obrigada! 

Alice Xavier


segunda-feira, 13 de julho de 2015

tão pequeno

https://iamachild.wordpress.com/category/millais-john-everett/





















Nem o riso
nem a brincadeira
de uma criança comum...
o amargo daquela palavra
a escuridão daquele olhar
tiraram o brilho daquele menino
tão pequeno
tão pequeno
tão pequeno
e a vida nos deixou uma interrogação
fincada no peito
e agora?
e os dias que estão por vir?
e a esperança que deveríamos ter?
Estarão as noites trancadas naquela janela escura?
uma criança jamais esquece
o dissabor
da indiferença.

Alice Xavier