segunda-feira, 19 de abril de 2010

Ruídos

O cansaço me consome como coisa velha
atirada nas latas
aos felinos

meu coração não é de aço
é puro sangue
e os vampiros vencem

rebuçado
leviano
aliciante

o sangue
o coração
a mente

deito em chão duro
meu regaço
das penas insensatas
das lutas vãs

fortaleza nata
nefasta
pra que serve?
Choro às escondidas.

Quero paz...

aquele consolo do fim do dia
que só os fracos merecem.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O que é leitura?

O que é a leitura?
Perguntaram-me tantas vezes durante a faculdade.
Respostas prontas, eu sabia,
mediante conceitos dados por inúmeros pensadores
da educação, dos homens, do mundo.
No entanto, eu não sabia o que era leitura
Nem ao menos o que era ler o mundo
Sentei-me numa pedra
Distante de casa
E enxerguei o pôr do sol.
Daquela cena, fiz um poema
Bonito, rimado
Cheio de metáforas e jogos com as palavras
Mas eu ainda não sabia o que era leitura
Li poemas de Manuel Bandeira
Adélia Prado, Fernando Pessoa
E neles fiz meus poetas favoritos
Li romances de José de Alencar
Machado de Assis, Gabriel Garcia Marquez
E tantas vezes me decepcionei
Porque não li o final que eu esperava.
E eu não sabia o que era leitura.
Li jornais, li revistas, li bula de remédio
Li placas na contramão
Li as cartas que os amigos me enviavam
E as cartas que o meu bisavô escrevia
E eu não sabia o que era leitura.
Li tanto e tantas vezes não entendi nada
Voltei e li novamente
Dispersei-me com a conversa de minhas irmãs
Tomei remédio pra me concentrar
Fechei a porta do quarto
Algumas vezes, o silêncio
Outras tantas, música pra acalentar a alma
E eu me perdia nas histórias
Pra de repente me encontrar
No país das maravilhas.
Eu chorava e ria
E o meu mundo
era somente o livro que eu lia.
Quantas vezes eu achei que minha vida
Era somente aquela história finita...
Quantas vezes eu tive a certeza
Que a minha vida dava uma história de livro...
Mas eu ainda não sabia o que era leitura
Fui lendo tudo
Tudo o que encontrava
Lia as legendas de filme
E nos filmes eu me inspirava
Corria pro papel e
escrevia alguma coisa de mim mesma.
Lendo os filmes
Eu achava que sabia o que era leitura.
E continuei lendo e escrevendo
Inventando e me encantando
No entanto... descobri ,com o passar dos anos,
Que eu ainda não sei o que é leitura.
Quem diz que aquele rapaz ali sem fazer nada
Bebendo com os amigos
Entorpecendo-se com seus vícios
Não sabe o que é leitura?
Quem diz que aquela senhora
Entretida com seus bordados não sabe o que é leitura?
Quem diz que aquele senhor
De chapéu preto
E sacola da feira na mão não sabe o que é leitura?
Quem diz que aquele pai
Que leva seus filhos pra escola
Na garupa de sua bicicleta
Não sabe o que é leitura?
Quem diz que aquele menino
Vendendo bala no trânsito
Não sabe o que é leitura?
Quem diz que aquela mãe
Que vela seus filhos à noite
Ou anda ao seu lado
Dia após dia
Pra lá e pra cá,
Não sabe o que é leitura?
E de repente...
Vejo-me lendo o mundo
Vejo-me na leitura dos homens
Que decorrem de um poema
poema de amor de encanto
caso de ternura
Ou daqueles que
cantarolam qualquer música
Ao final do dia
Pra espairecer
Respiram fundo pra não chorar
Ou pra sorrir
Ou pra dizer a palavra mais linda
Que encontrou,
ao ser amado tão belo
e tão cansado do dia da vida dos sonhos
Surpreendo-me com a leitura
Dos jovens
Que interpretam a vida
Cada um do seu jeito
Cada um com sua esperança
Leio o olhar de meu avô
E não consigo nunca escrever
a vida que ele construiu.
A história que ele deixou.
Minha avó, dormindo na cadeira,
Lê a saudade
Dos tempos em que corria pra janela
Pra ver se o homem de sua vida
Já chegava para o almoço
Ele ou ela, na capacidade de homens,
Leem o tempo, leem os sentimentos
Leem o sol, a chuva, o vento...
E cada um com sua leitura
Apresenta todos os dias
A sua própria poesia
De palavras inventadas
E musicada nos versos
Da alegria
E do desejo de ser sempre
Um bom e simples leitor.

Alice Xavier

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Caminho entre o nada e o de repente
E talvez a saudade me engasge eternamente
Saudade de tudo o que um dia eu fui
E me perdi
Vagando pelo mundo
Soltando os verbos imundos
No escuro do abismo
do peito da solidão amargurada
cantei os últimos versos
sorri o último encanto
no sonho do inimigo
lá eu estava
correndo em sua direção
para o beijo derradeiro
Luz, apareça!
E me encontrarei
Nos teus espetáculos absurdos!

Alice Xavier

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Os milagres de Chico Xavier



Quando eu era criança, tinha o sonho de conhecer Chico Xavier. Diziam, ele era iluminado. Há alguns metros de sua casa, já se podia sentir sua paz, uma emoção forte, cheiro suave de flor. Era a casa da caridade. Da doação plena. Da esperança de muitos, do consolo.
Até que um dia ele morreu. Ninguém estava pensando nele ou que aquela seria sua hora. Estávamos todos felizes, comemorando a vitória da Copa de 2002. No entanto, que despedida!!! Céu em flor! Assim como ele ensinava aos que perdiam seus entes queridos, lágrimas de esperança. Nenhuma revolta ou desespero. Era uma notícia feliz saber que Chico Xavier retornava ao seu verdadeiro mundo, para descansar seu corpo físico, mas para continuar, de certa forma, com seu trabalho de luz, no plano espirtual.
Mesmo aqueles que não acreditavam em suas palavras, puderam sentir a força das mesmas sobre cartas psicografadas de tantos filhos nas mãos de suas mães desesperadas, puderam sentir a bondade em seus olhos, a esperança nas diversas mensagens deixadas ao vento, nos livros, nas orações infinitas.
Houve aqueles que zombaram, que maltrataram, discriminaram, ofenderam... tudo em nome do mesmo Deus. Mas Chico continuava com o mesmo sorriso, o mesmo olhar humilde, a mesma disciplina, cumprindo com seu único propósito de fazer o bem, o verdadeiro bem.
Há alguns anos, li o livro "As vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto, e fiquei maravilhada. Não conhecia nada sobre a vida de Chico Xavier e me emocionei com toda sua história. Que dom! Que sabedoria divina! E a gente que pensa que não há pessoas assim no mundo em que vivemos. Quão bom é acreditar nisso, acreditar no bem, nas possibilidades grandiosas da caridade e do amor.
Assistir ao filme "Chico Xavier" foi como realizar meu antigo sonho. Sim, eu estive perto dele e senti tudo o que eu, um dia, quis sentir. Uma paz maravilhosa (e até estranha) me envolveu. Era como se aquela sala de cinema estivesse iluminada. Tinha cheiro de flor. Os olhos de quem saíam, depois das luzes acesas, eram cobertos de lágrimas. As lágrimas da esperança. Homens e mulheres sentiram. E eu fiquei com a certeza daquela presença amável, que a vida inteira me tocou e me ensinou com palavras tão, divinamente, sábias.
Se eu sou espírita? Não, sou católica. Mas crente, e grata a Deus (pelas), nas verdadeiras presenças de luz e paz no mundo em que vivemos.
"Salve Chico!"

Alice Xavier