sábado, 24 de dezembro de 2011

Este ano, quero paz no meu coração...

Amanheci em véspera de Natal
E era pra ser assim dia vinte e quatro de dezembro:
um dia feliz e de paz.
No entanto, acordei em prantos
porque sonhei com meu avô...
sonhar até que é bom
mas acordar, não.
Voltar ao pesadelo da vida
quando a vida parece tirar toda a paz que o Natal merece ter.
Decaí no que me assombra
o meu vício constante
que me perturba tão constantemente
como se me afogasse em desespero
e eu pudesse sentir ao mesmo tempo
gozo e lágrimas
ardendo no meu peito
As escolhas ao longo do tempo
a aceitação
a tal da resignação...
como dóem!
Quando eu era criança e ouvia as pessoas desejarem "paz"
ao dizer, tão mecanicamente,
"Feliz Natal",
eu não entendia o que seria essa palavra
- naquele instante mágico da infância
e na condição sublime de se ter família -
e hoje eu rogo com todas as minhas forças:
"Paz, paz, paz, eu quero paz"
será que o tal "papai noel"
poderia me trazer esse presente
dentro de um sapatinho
na janela do meu quarto?
Eu juro que eu deixo ele lá,
não um sapatinho,
mas o meu sapato tamanho 40
e o meu coração
a se derramar sobre a lua
a espera de paz.

Por que é tão caro a algumas pessoas
dizer - o que quiser -
em tons doces de educação, respeito e carinho?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Esperança, Educação!!!!

Confesso que desta vez eu chorei. Como se naquele momento eu tivesse perdido as esperanças. Eu juro que eu pensava que não tinha mais como piorar o sistema educacional no país, mas eu estava enganada. Um misto de raiva, decepção, indignação. Senti-me humilhada, junto aos meus colegas de profissão, companheiros de trabalho árduo, de luta, de esforço, de esperança. Lembrei dos rostos dos meus alunos, de todos os que foram "meus" durante os meus doze anos de magistério. Dos que sonhavam com o curso superior, dos que estavam na escola porque os pais queriam, dos abandonados pela família, dos adotados por nós, dos que queriam apenas o diploma para a obtenção de um emprego. Lembrei daquelas crianças, com os cadernos e os lápis nas mãos, com medo das provas, apaixonadas pelo professor de matemática, chorando nos cantos, brigando nos banheiros, rindo à toa e tão alto pelos pátios.
Tão iludidos... os meus alunos. E tão iludidos os professores, acomodados àquela situação medíocre, aos seus salários de miséria. Tudo o que eles queriam era dar uma boa aula, era fazer com que o aluno gostasse de estar ali, que aprendesse ao menos ler, escrever sua própria história ou fazer as próprias contas. No entanto, o que me dói mais é perceber quão iludida é a sociedade, arraigada nessa cultura hipócrita que a política brasileira impõe, de que a educação é prioridade quando não é jamais; Que entrega cotas depois de massacrar com os péssimos ensinos fundamental e médio; Que desmoraliza ao invés de incentivar, seus pobres brasileirinhos, famintos de oportunidades, de igualdade.
Eu lembrei dos meus alunos porque não somos nós, professores, que sofremos. São eles, os iludidos. Os que acham que professor é quem deve educar, os que esperam de nós como salvadores da pátria. Nós, os professores, padecemos. Vivemos cansados, massacrados pelo preconceito, chamados de coitados. Quantas vezes me olharam torto porque eu sou professora e minhas irmãs médicas. "Ah... não gostava de estudar, não é mesmo?!" Ai que triste realidade. Ai!
Porém, eu ainda sinto orgulho de nós, profissionais da educação. Porque não desistimos. Porque sabemos o valor que temos, quando aquele menino tão sem esperanças escreve no final do ano que aprendeu a ser feliz, porque seu professor o ensinou a ser "gente".
Tenho certeza que agora estamos mais fortes do que nunca. Não somos mais marionetes nas mãos de vocês, políticos corruptos e interesseiros. Preparem-se para a guerra, porque a nossa arma vocês não tem: a inteligência, a criatividade, o dinamismo, a liderança verdadeira, o carisma e a justiça divina.
Força, meus companheiros de luta!!! Não se desanimem! Não lutaremos por nós, mas pelo nosso país, pelo futuro de nossos filhos, de nossos alunos, que merecem contar uma história melhor, com um final bem mais feliz!!! E com certeza, venceremos, pois, com certeza, estaremos mais unidos neste novo ano e sempre!!!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Adeus Ano Velho

Cansei de escrever poesia nesse fim de ano tão sem rima
a poesia da vida que hora ou outra me fazia postar
até os desenganos
o desespero da carne
do vinho branco
embriagado sobre a mesa
ou sobre a pele
em noites tão claras de lua cheia
Cansei de falar de amor
de dor
de cansaço e de agonia
da memória da infância tão fácil
Cansei daquele sonho salutar e,
ao mesmo tempo,
insano
fatigando nos meus olhos
a crueldade do destino
sobre a realidade do agora
e a vontade de ser aquele sonho
a minha verdade
absoluta
O tempo é de fogo
e o fogo queima sem pena alguma
é preciso fôlego
e água
pra ressurgir das chamas
pois até o pranto se findou...

todavia,
prossigo purificada
e embora,
afrontada pelas lutas,
sigo com as mãos vazias
entregues à esperança.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Tempo, tempo, tempo, tempo...



Por que será que precisamos de datas? Tem horas que me pergunto se isso é tão importante assim. Porque a gente costuma deixar tudo pra depois; o começo do regime, a faxina, os projetos, os sonhos... vai deixando pro próximo ano, pra quando chegar nos 30, nos 40. E aí a vida vai passando, e a gente vai envelhecendo e não fez nada. Aquele ano ficou pra trás, aquela segunda-feira bem mais pra trás ainda.
Se não houvesse as datas, quem sabe eu começaria hoje aquela dieta há anos adiada? Ou eu comemoraria todos os dias o dia dos namorados, o dia das mães, dos pais, do amigo...? Se não houvesse datas, eu não ficaria mais velha todo ano e eu não sentiria aquele desespero de que o tempo passou e eu não fiz nada do que eu queria. Porque as datas nos limitam e ao mesmo tempo, nos pressionam. As datas cansam. E não se cansam, se repetem, fazendo eu recordar a velhice, o tempo passado, "Nossa! Quanto tempo! Já se passaram tantos anos!" Se não houvesse as datas, haveria somente o hoje e eu não contaria nos dedos quanto tempo falta pra eu fazer tal coisa ou não. Eu não lamentaria a segunda feira e nem festejaria a sexta. Sairia com meus filhos quando sentisse vontade, começaria já a minha academia, comemoraria o meu aniversário todos os dias!
Há os que são a favor da rotina, da organização do tempo... há os que anotam tudo na agenda, eu sei. Mas será que a gente precisa mesmo disso tudo, assim, tão "a ferro e fogo? Porque eu acredito que se a gente não se apegasse tanto às horas, a gente seria mais livre. Sem os relógios nos cobrando sobre o pulso ou sobre as paredes da casa, eu dançaria e riria até o amanhecer; A velhice aconteceria, naturalmente, sem que me perguntassem a idade... E eu teria somente somente o sol e a lua a me tolher os sonhos.
Alice Xavier

sábado, 3 de dezembro de 2011

Oh dúvida cruel!


Tomar uma decisão é torturar a si mesmo e àqueles que amamos,
quando não sabemos, definitivamente, o que é correto.

Alice Xavier

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Dando satisfação

Eu juro. É a famosa correria. Os amigos cobrando e eu sentindo falta de todos eles. No blog, fora do blog...
Fim de mestrado, filhos, casamento... tudo junto e misturado, com trabalho e mais trabalho; e eu sem ajudante em casa, dá pra imaginar o como está minha vida né?? Mas ontem até que fiquei feliz. Meu filho mais velho veio com essa:
_ Mãe, você é uma super mãe!
_ Por que?
_ Nossa, hoje você arrumou a casa toda, que estava uma bagunça, cuidou do Thiago que está doente, lavou o carro que ele vomitou e ainda me levou pra passear.
Por um minuto parei pra pensar e respirei fundo: Que bom que consegui tudo isso! O mais importante pra mim era jamais faltar aos meus filhos.
Às vezes bate aquele desespero, será que vou conseguir?? Porque casamento não é brincadeira, ainda mais quando se tem um filho que não é do seu marido. Nooooossa! Hoje eu falo pra tudo quanto é menina: Não faz filho antes do casamento não, porque é pecado mesmo, rsrsrs.
Ah, e sem falar que entrei num regime (finalmente) e estou animada com as minhas velhas aulas de boxe, caminhada, corrida, passeio no parque. Eu preciso tirar essa horinha pra mim né, gente??
E claro que nessa correria toda, eu acho tempo pra fazer o que gosto. Fui ao show da minha cantora favorita, a Tiê, e tive o prazer de tirar lindas fotos com ela e me deliciar com suas musiquinhas que amo demais.
Pro ano que vem, estou fazendo mil planos: pintar, desenhar, escrever, viajar, ir a mais shows (Marcelo Jeneci tem que ser o próximo!!!)... e curtir mais meus amigos e minha família.
Enfim... estou tentando conciliar tudo... espero que entendam, que estou numa fase não muito fácil, mas vou dando conta de tudo e de todo mundo aos pouquinhos. Quero que saibam que amo todos vocês e peço, de coração, que rezem e torçam por mim, pois podem ter certeza, eu jamais deixarei de fazer isso por vocês também. Obrigada pelo apoio e pela força que sempre me proporcionam.
O que estou aprendendo com tudo isso? Que às vezes, é preciso se dedicar a nós mesmos e dizer não também, porque a vida passa rápido demais e se a gente não cuidar da gente, ninguém mais vai cuidar. Bom restinho de ano pra todos nós!!! (E a gente continua se falando pelo FB, hehehe)
Beijocas!!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Aos meus irmãos de coração, pela vida que nos presenteia...

Não deixe de ouvir enquanto lê
http://www.youtube.com/watch?v=faqWafcTT6s&feature=related

A doraria abraçar você agora
D aria tudo pra estar ao seu lado
R ogo a Deus neste instante pra que te cubra de bênçãos
I gnoro o tempo ruim e
A bro as janelas da minha casa pra que a vida cante
N orteio os passarinhos pra que te
E ncontre, porque
C ertamente enfeitarão os seus jardins
E farão crescer as flores como na primavera
S erão infinitas as alegrias
A s letras todas rimadas
R odearão sua casa as borboletas

V elarão por ti os anjos todos
I rradiando luz, clareando sempre
D eixo, portanto, meu beijo e minha alegria
A mor, saudade e cantoria.

Alice Xavier

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A lua e o mar


No meu quarto tem estrelas guardadas na escuridão dos olhos fechados
quando é noite e eu não posso dormir
porque o cansaço não me deixa repousar

e no céu do meu quarto tem passarinhos voando
aqueles com ramos nos bicos
outros com cartas pra mim

E eu também tenho asas pra desbravar o mundo
que estranho
que ternura de mundo a se revelar

Sim, eu fecho os olhos e aí eu posso ver
grilos
ouvir os curimins cantando nas florestas
em volta da fogueira

Levanto as mãos e alcanço
um pedaço de nuvem do céu
eu provo, é doce
eu sabia

Ponho o pé no chão
areia
mar
e perto do mar
um barquinho branco feito de papel
foi minha mãe que fez pra mim
navego no barquinho de papel
até a lua

e quem foi que disse que a lua não encontra o mar?

Nossa Senhora quietinha
ninando Jesus Cristo
e eu que pensava
que era São Jorge que vivia lá

Abro os olhos e não há mais nada
só a mesma fronha do travesseiro
o quadro na parede
o vento pela janela
e a televisão desligada.

Alice Xavier

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Por que eu amo meu marido?




Seguindo a ideia de Fabrício Carpinejar...


Em três meses de namoro com o meu marido, descobri que ele tinha mentido a idade. Achei horrível... a mentira! Mas adorei o fato de que ele era mais velho que eu, rs. Hoje é o seu aniversário e já se passaram quase nove anos que estamos juntos. Nada mais justo que refletir, e depois declarar, sobre o por que eu o amo.


Quando o vi pela primeira vez , no ponto de ônibus da faculdade, achei nele um menino doce, meio tímido, desajeitado e ao mesmo tempo, com um toque de vaidade. Parecia tão romântico... No fundo ele sempre foi tudo isso mesmo, mas depois, o descobri totalmente diferente: rude, sarcástico, convencido, um pouco egoísta e muito arrogante. Eu me perguntava várias vezes por que estava convivendo com uma pessoa assim tão insensível e tão voltado pra si mesmo. Mas era como se todas aquelas qualidades que eu vi no primeiro dia estivessem escondidas, e por alguma razão ele fazia isso de propósito, mas quase sem querer. Como se se revestisse com uma carapaça, pra não se deixar sucumbir.

Com o tempo descobri nele traumas de infâncias, lembranças tristes e pouca maturidade pra superar tudo. Um menino precisando de colo e de força, de amor e de sonho. Apaixonada, não desisti. Arrumei as malas e parti em busca daquele ser tão misterioso que mexia tanto com minhas "estruturas".

Fazia pouco tempo que ele tinha descoberto: seu pai não era seu pai. Havia outro. E por trás dessa história, uma história tão complexa. Ajudei-o na busca pelo pai verdadeiro e... encontramos. Aliás, ele se encontrou. E foi desde então que a carapaça começou a se desfazer, devagarinho, e até hoje anda em processo de desfeita.

Não que eu quisesse mudá-lo, mas eu precisava ajudá-lo a transformar-se em alguém melhor. Acontece que quem mudou muito foi eu. Nada mais normal, já que qualquer relação nos transforma, nos faz amadurecer, enxergar o mundo de uma maneira diferente. O Guilherme me ensinou a superar os meus traumas e a me amar mais, a ser mais forte, a ter mais coragem. Com ele eu vivi as aventuras que eu sempre quis viver. E foram alguns dos melhores momentos da minha vida: Pegar "jacaré", cantar na praia, arrumar qualquer canto pra dormir, dormir agarrado todo dia... falar de literatura, ler poesia, viajar... cair em qualquer chão pra se amar... sem vergonha de dizer o que sente, o que fantasia, o que gosta e o que não gosta... rezar... casar... ter mais um filho (já que o meu ele o acolheu como dele), segurar minha mão na hora do parto, chorar junto a emoção da vida em nossos braços.

As alegrias e o prazer de se estar junto é sempre melhor que qualquer diferença, ou desavença. Ainda mais quando se descobre que aquele cara durão é capaz de se emocionar com pequenas coisas, chorar no cinema, ou quando se declara pra você; Quando aquele cara tão prático, embrulha seu presente num saco de pão com os restos dos farelos; Quando o amor da sua vida, embora egoísta, demonstre ser tão apaixonado ao ponto de escolher você pra ficar do lado dele pro resto da vida.

Tem coisinhas e coisonas que ainda precisam ser transformadas, em mim, nele, em nós... o que é natural. No entanto, delinear o tempo um do lado do outro, me faz perceber o quanto sou feliz, cada dia mais, o quanto somos felizes juntos. Olhar nos seus olhos é ver o mesmo menino que conheci no primeiro dia e perceber que ele está, pronto pra ser feliz ao meu lado, pra se dedicar por nós, por nossa família, tão amada.



Gui, amo cuidar de você... das suas roupas, do seu cabelo, da sua pele... organizar e guardar seus documentos, arrumar sua mala, tirar o seu sapato, fazer o seu prato. Do mesmo jeito que sempre cuidou de mim... de como colocava o nosso bebê no meu peito, de como fazia os meus curativos e me banhava.


O meu amor é sim, verdadeiro. E por mais que eu não saiba dizer aqui as razões, eu escolho todos os dias amar você, mais e mais.


Feliz aniversário!!!

domingo, 24 de julho de 2011

História do Meu Bisavô José Francisco Maciel

Uma festa da família Maciel (família de meu pai) foi realizada em Crixás. Este foi o texto que escrevi para homenagear o meu bisavô José Maciel, figura importante da nossa família. Foi um prazer conhecer essa história e poder escrevê-la em algumas palavras.


Infelizmente, não pude estar presente com vocês neste dia. Peço desculpas, mas deixo, com muito carinho a minha sincera e simples homenagem.
Nasci com uma paixão incrível pela música, pela arte e pelas histórias e, sinceramente, não sabia de onde tinha herdado. Sou apaixonada pelo som da sanfona e das cantorias com viola ou violão, tenho mania de desenhar e de caderninho de anotação. Contar histórias, escrever cartas, textos e poesias... minha dedicação.
Eu conhecia tão pouco da história de meu bisavô José, porque não pude conviver com o meu pai. No entanto, sempre me interessei pelas histórias de minha família e tenho um grande amor por todos. Guardo a sete chaves as cartas de meu pai, sua voz em uma fita antiga, escrevo-lhe poemas em noites de solidão, choro quando tio Ailton me liga e contemplo fotografias antigas como terapia pra alma. Reconheço-me em cada rosto, em cada história, procuro saber o nome, abraço com ternura meus velhos tios e primos e estes últimos, podem ter certeza, são os meus melhores amigos.
“Ah bão, né”... como dizia meu bisavô José, é com orgulho que agora conto um pouco do que aprendi sobre ele.
José Francisco Maciel nasceu em vinte e quatro de junho de mil oitocentos e noventa e três, na fazenda Barreiro Vermelho, Município de Crixás, Goiás. Filho de Ângelo Francisco Maciel e Antonina Laurência Seixas, foi batizado em Crixás por Joaquim Xavier Ferreira e sua esposa Maria do Carmo.
Quando tinha dezesseis anos sentiu-se obrigado a sair de seu lar materno a procura de conquistas e dias melhores. Instalou-se em “Goiás-Velho” onde concluiu o primeiro grau, morando e trabalhando como balconista com o senhor André Batista de Alencar. Passou por Ipameri, Morrinhos e Catalão. Exerceu a profissão de delegado de polícia de quarteirão, balconista, secretário de Engenheiro. Sempre foi querido pelos patrões, com os quais aprendeu muito.
Através do seu trabalho como auxiliar de agrimensor em Pires do Rio e Morrinhos tinha acesso a estrada de ferro. Conhecia pessoas de diversos lugares, trazendo as novidades para nossa cidade. Foi ele quem trouxe a primeira escova de dentes para a região.
José casou-se com Carolina Xavier Ferreira, que passou a se chamar Carolina Xavier Maciel. Residiam em Crixás, onde aprendeu um novo ofício, trabalhando como mestre de obras das construções da Lavra, local de extração de grande quantidade de ouro. E por aí seguiu, laborando como comerciante, sapateiro, boiadeiro e fazendeiro. Trouxe para Crixás muitas novidades para a época, diversas qualidades de frutas e flores (abacate, manga, jabuticaba...), Formou um pomar como o nome de “Quinta”. Foi também o primeiro a fazer cerca de arame farpado no município. O arame foi trazido no lombo de burros e cavalos, pois não havia estradas nem carros.
Foi uma pessoa amiga, muito divertida, gostava de contar histórias e piadas. Tocava flauta, gaita, sanfona e cantava. Gostava de ajudar o próximo. Como naquela época não havia nem médicos nem farmacêuticos, ele medicava os doentes com orientações baseadas no livro chamado: “Guia Prático da Saúde”. Como também não havia professores na região, ele fazia “Cartilha manual”, e ensinava os vizinhos a ler, escrever e contar. Acreditava no futuro, e por isso se empenhava em construí-lo, enfrentando barreiras, inclusive físicas, para contribuir da melhor forma possível. Gostava de se manter informado, principalmente sobre a política de seu país, assunto pelo qual era bastante conhecedor.
José e Carolina casaram-se em 17 de Julho de mil novecentos e dezessete, e em Junho de mil novecentos e dezoito nasceu o primogênito, de muitos filhos, Laudelino Xavier Maciel(falecido), seguido de Nair Xavier Maciel (falecida), Jocelino Xavier Maciel, Jolina Xavier Maciel, Cristiano Xavier Maciel, Leolino Xavier Maciel (falecido), Joaquim Xavier Maciel, Tomaz Xavier Maciel, Arcelino Xavier Maciel (falecido), Jovercina Xavier Maciel (falecida), Antônio Xavier Maciel, Eclair Xavier Maciel, Manuel Xavier Maciel (falecido), Maria Xavier Maciel (falecida), João Xavier Maciel (falecido) e José Maciel Filho.
Era uma família muito alegre, gostavam de festas, de dançar e tocar alguns instrumentos. Tinham em casa cavaquinho, viola, caixa, pandeiro e sanfona. Uma família frondosa que admiro e amo muito, fruto do amor e da perseverança de José Maciel e Carolina.
José Maciel veio a falecer em vinte de dezembro de 1964. Foi bom esposo, filho, pai, sogro, avô e bisavô; Bom amigo e grande conselheiro. Faleceu na Fazenda Santo Antônio da Boa Vista, onde residia. Deixou muita saudade, de filhos, genros, noras, netos, bisnetos e filhos adotivos, demais parentes e amigos.
Creio que haja diversas histórias sobre a vida deste homem que fez história por sua postura inovadora e carismática. É nobre a reunião desta família para recordar e homenagear quem nos dá identidade, raiz, união através da força e do amor. Segundo depoimento do meu tio Ailton, vô José era uma pessoa muito organizada e avançada para a época. Confeccionava botinas e chinelos usados por toda a família. Além de calcados, ele fazia bolsas e cabeçadas (que seriam usadas em cavalos).
Ensinava os filhos a rezar e os reunia ao luar para contar histórias de sentido educativo. Ao contar um caso, parava por um instante, puxava o cigarro de palha para a direita e para esquerda e ao continuar dizia “Abão Né” e prosseguia.
Creio que Vó Carolina não era diferente das outras avós: esperta, brava, mas muito bondosa e carinhosa. Tenho certeza que Tio Zequita e Tio Ailton ainda se recordam, com saudade, do grande banco de Jatobá, onde brigavam pelo colo da vó, na cozinha do Sítio Santo Antônio da Boa Vista.
Vó Carolina, quando viajava, ia na frente com o seu cavalo “Sereno”, um dos cavalos em quem meu pai e meu tio, gostavam de montar. E é assim que imagino o meu bisavô e a minha bisavó: no lombo de um cavalo, ensinando os netos a cavalgarem, rumo ao mundo, em busca de conhecimento e transformação, mas também em busca do sentido da vida, da valorização da família, do amor, de Deus.
Que essa família cresça sempre unida, no amor e no respeito, mas sempre consciente das verdadeiras origens, recordando com carinho e seguindo os bons exemplos do nosso grande homem José Francisco Maciel.
Um grande abraço a todos e que, de uma forma ou de outra, possamos estar sempre juntos. Quem sabe um dia, debaixo de uma árvore, ao luar, pra contar histórias...

Alice Xavier

sábado, 23 de julho de 2011

Reencontro



Apaixonei-me por você novamente. Achei que depois de tudo seria difícil de acontecer. O amor tem dessas coisas, não é? os tais "altos e baixos". Vi meu corpo cair várias vezes no fundo do poço, arrumei força pra subir e cheguei ao topo sozinha. No meio do caminho, quantas pedras, quase me desviei ilusões afora. Mas você estava lá, me esperando, depois de atravessar também os seus caminhos tortuosos. O perdão flui sem que se peça. O amor gera sem que se cruzem os nossos corpos; somente o meu olhar no seu e o seu no meu, no movimento infinito da exatidão. Lavo o meu corpo e o seu, faço juras de amor pra vida inteira, você me tira pra dançar e nós brindamos o reencontro, a paz afinal.


Meu amor é como o sossego em noites de lua cheia, quando o azul do céu se encontra com o azul do mar, e o canto das ondas silencia a minha alma.

Alice Xavier

sábado, 16 de julho de 2011

Menino Passarinho


Quando menina, estudei dois anos em uma escola pública de Goiânia. Na escola, tinha um grupo de coral em que eu entrei logo, logo, já que era o meu sonho saber cantar. A primeira música que aprendi foi "Prelúdio pra ninar gente grande", de Luiz Vieira, que fala de um menino passarinho. Essa música marcou minha vida para sempre, talvez porque essa ideia de ser passarinho, ou de querer voar, sempre esteve presente comigo. Até hoje, sonho que estou voando, sobre o mar, sobre as árvores, longe das multidões e dos edifícios que cobrem as estrelas.
Minha prima e melhor amiga Ana adorava me ouvir cantá-la e me pedia sempre pra que eu cantasse pra ela, tocando no violão. Quando Aninha morreu, aos vinte cinco anos, lhe escrevi uma poesia, que também se chamava 'menina passarinho'. Porque eu sonhava com ela sobrevoando as nuvens, cantando a mesma canção. Nos sonhos, eu lhe oferecia rosas, e as rosas nasciam em seu jardim.
Há pouco tempo, minha amiga e professora do mestrado, também grande escritora Maria Sueli de Regino, publicou um novo livro: 'Menino Passarinho". Imaginem a minha euforia e a minha vontade de ler o seu livro. E para minha alegria, ela deu um exemplar para meu filho Luis Felipe, porque, como ele ama Mitologia Grega, iria adorar a parte em que ela conta a história do Minotauro, de Teseu e Ariadne.
Depois do Luis Felipe, tive o prazer de ler a história. E enquanto eu lia, eu, simplesmente, voava. Como se a história me levasse pra o habitat natural dos pássaros, sem prédios, nem poluição. Para a paz verdadeira, um vento calmo e tranquilo como o das manhãs. Canto de passarinho era o que eu ouvia e por mais que a triste realidade de uma criança abandonada estivesse ali, estava também a esperança, a luz que persiste na alma humana e também na coragem de quem faz educação de verdade.
Queria essa coragem e a dedicação de Mariana, ou a pureza de Curió ou ainda o amor tão verdadeiro de seu Vicente, aquela vontade imensa de viver e a certeza de que os sonhos se realizam. Que bom poder aprender com eles, voar com eles nessa aventura linda e merecedora de todos os aplausos e coro de passarinho.
Sueli, muito obrigada!
Alice Xavier

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Minha vida segundo Jim Morrison


(Gostei da brincadeira!)

Você é um homem ou mulher: L.A. Woman

Descreva-se: Wild Child

Como você se sente: Five to One

Descreva o local onde você vive atualmente: Love Street

Se você pudesse ir a qualquer lugar, onde você iria? Alabama (Song)

Sua forma de transporte preferido? The Crystal Ship

Seu melhor amigo(a): 4 Billion Souls

Você e seu melhor amigo(a) são: Riders on the Storm

Qual é o clima: Touch me

Hora do dia favorita: The end

Se sua vida fosse um programa de TV, como seria chamado: Hello, I love you

O que é vida para você: A feast of friends

Seu relacionamento: Light my fire

Seu medo: when the music's over

Qual é o melhor conselho que você tem a dar: Break on Through (to the Other Side)

Pensamento do Dia: You are Lost Little Girl

Seu lema: Love me Two Times

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Levanta Poeira











"Quero meu forró morando na literatura e desenhando arquitetura na cultura popular"

Não tem algo que me fascina tanto quanto a cultura brasileira. Arte, música e literatura fazem parte da meu cotidiano e o que diz respeito ao Brasil corre no meu sangue como a história da minha própria vida. Viajar pelo Brasil e conhecer um pouco mais dessa cultura são algumas das coisas que mais amo fazer, assim como escrever sobre o que vi, vivi e conheci. Desta vez, estou em Aracaju, Sergipe, na casa de grandes amigos e, como é Junho, época das tradicionais festas juninas no Nordeste, não poderia deixar de apreciar melhor as quadrilhas da região.
Assim que cheguei aqui, sábado dia 04 de Junho, me encantei com as casas enfeitadas de bandeirinhas e balões de São João. O envolvimento dos sergipanos com as festas de junho é imenso e eu não imaginava quão interessante era isso. Soube, então, que haveria em Japaratuba, pequena cidade há 60 km de Aracaju, a final do concurso de quadrilhas Levanta Poeira. Conhecendo minha simpatia, meus amigos fizeram questão de me levar até lá para prestigiar o evento. Só por isso já valeu meu passeio, minha vinda até aqui.
Os dançarinos eram pessoas simples. Estampavam no rosto, além da maquiagem tão bem desenhada e cheia de brilhos, a ansiedade e o nervosismo pela apresentação que fariam. As roupas entregavam o talento artísitico, na confecção de cada escolha de tecido, do entermeio das cores, do brilho e dos babados que faziam girar as damas numa harmonia perfeita, num movimento que encanta quem está assistindo e contagia os nossos próprios quadris. A minha vontade era de me misturar aos grupos, arrumar um par e dançar também. Impossível. As coreografias eram muito bem ensaiadas e todos os pares formavam a combinação exata para a realização plena da quadrilha.
Para cada grupo participante, um cenário diferente, com chita, “boi da cara preta” e muita música, forró e percussão. Cada apresentação uma história, uma encenação. Os dançarinos se transformavam em atores: noivos, padres, cangaceiros e as cores do Brasil sempre em exaltação. Em cada rosto, um sorriso aberto, sincero, uma energia boa de quem sentia alegria. Alegria verdadeira, satisfação em estar ali dançando, não em busca apenas da vitória, mas participando com amor e devoção por sua cultura, como os velhos carnavalescos em dias de carnaval.
De máquina na mão, eu fotografava tudo, cada detalhe das roupas e acessórios, o cenário tão bem montado, o boi que se agitava no meio do salão. E os dançarinos pousavam pra mim como seu eu fosse levá-los para o mundo, com quem pedisse pra que eu divulgasse a sua arte, a sua música e a sua cultura, tão brasileira e tão pouco conhecida por nós brasileiros, costumados a computador, carne e celular.

Em Japaratuba, eu respirei arte, música e cultura brasileira de verdade, porque a simplicidade do brasileiro é isso, esse instante de alegria e cor que dança e canta em cantos desconhecidos e que me dá o prazer de fazer parte desse país tão mágico e tão bonito.

Alice Xavier

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Semana Santa



Quando criança, eu acompanhava minha avó nas andanças pela Igreja. Novenas, orações, visitas e procissões. Missas durante a semana, festas de Trindade, canções. Cresci nas catequeses, de Biblinha na mão, terço na cabeceira da cama, novenas de Natal e luz de vela. Aprendi a acreditar na morte de Jesus como minha e a renascer com Ele ao final das quaresmas. A queimar os velhos sentimentos e a ressurgir do fogo. O mito do sacrifício me percorria, me ungia o peito, e eu, devoção e lágrimas. Com o tempo, questionei a Igreja, seus dogmas, suas regras, seus rituais. Sofri quando questionei Deus, sua existência e todo a cosmogonia católica. Abandonei minha vó nas suas perigrinações até o Altar. No entanto, Deus estava presente em mim. Ainda buscava por Ele como meu sustento, meu ar, a força que me faltava, a solução para meus problemas. Talvez NEle eu encontrasse meu pai, ainda a me abençoar, a me amar. Conheci o espiritismo, o kardecismo e os centros de umbanda; os anjos e seus mistérios, os rituais do amor, as velas e os incensos; a universidade e os movimentos estudantis, a cerveja, o cheiro da droga que, felizmente, recusei a usar. Apaixonei-me tantas vezes e amei, e me embriaguei ouvindo The Doors, Live, Bush... as óperas, as músicas eruditas. A música enfim, tocada e cantada por mim num sentimento mórbido, mas sincero. Sofri por amor, por ser diferente na minha família, porque vivia num mundo que só a lua habitava. Mas eu lia os salmos e acreditava. Eu sentia Deus.
Conheci meu marido e com ele, sua crença, baseada nos mistérios da oaska e me perdi ali por um tempo, porque queria fazer parte de seu mundo, respeitar sua vontade. Perdi-me porque conheci a pior das depressões, das dores de cabeça, dos choques nos ouvidos, das alucinações. Perdoe-me quem acredita, amigos e familiares do meu marido, mas esta é a minha opinião. Um dia fui com meu padrinho - pai que ganhei ao longo da vida - ao alto do São Francisco na cidade de Goiás, dar início à procissão do fogaréu. A emoção que senti foi inigualável e é inesquecível. Ali descobri: meu mundo estava ali, minha crença, meu sangue com a tocha acesa entre a procissão. Por causa do chá, quase perdi meu filho pelas entranhas, com sangue e dor. Loucura, decidi por mim.
Depois de casada, com o Thiago nos braços, alívio. Abandonei a tal religião e voltei a ser eu. Voltei a frequentar a Igreja e passei a separar o que eu não concordava e o que eu não acreditava do que realmente valia pra mim. Com o tempo, meu marido me acompanhou, embora não tenha esquecido suas origens e nem é isso que eu desejo. Caminho com meus filhos pelo caminho de minha avó, porque não quero que eles conheçam os caminhos árduos por quais passei. E eles vem aprendendo a também ter fé, o que é alívio para uma mãe, que não poderá protege-los para sempre.
Enfim... Eu tenho fé e me orgulho disso. Levo comigo o que aprendi com o espiritismo, como a reencarnação e as coisas do espírito e, embora eu conheça os mitos e estude filosofia, história, literatura, ..., questionando sempre a veracidade da Bíblia e da Igreja, eu sei sentir Deus. E preciso da religião pra ter força, apoio, fé viva. Como disse, eu sei separar as coisas. Ainda me emociono no caminho das procissões e desejo morrer com Cristo pra renascer novamente, alguém melhor, mais feliz, com mais amor e menos preocupada comigo mesma, em busca da felicidade que está naquilo que Deus me ensinou: amar ao próximo como a mim mesma e a Deus, sobre todas as coisas.

Feliz Páscoa!

Alice Xavier

terça-feira, 19 de abril de 2011

Tem dias que a gente chora





Tem dias que bate uma tristeza. Sabe aquele sentimento porco de inutilidade? Então... fico pensando no que é que sou útil pro mundo, pra humanidade, para meus amigos e minha família. Frustração! Tem horas que a gente precisa de reconhecimento sim, de ser valorizada, pela sociedade, pela família. Acabo não acreditando que eu tenha feito as escolhas certas. E o que mais eu posso fazer? O que eu sei fazer? Nem eu sei. Tento descobrir fazendo o que gosto. E aí a velha baixa auto estima, ancorada no fim do meu poço, me faz pensar que fracassei. Acho que o que me sustenta é a minha qualidade de sonhadora, de quem tem esperança. Odeio o lugar de vítima e o consolo "tadinha". Quem me dera se minha voz pudesse alcançar a realização plena, mas já estou rouca de tanto gritar, aqui comigo mesma, pra minimizar essa insegurança medonha, na minha ânsia pela vida, pela vontade de transformar tudo, de fazer história. Mais uma vez eu continuo, sempre em frente, nessa estrada batida, tentando mudar o mundo e, de vez em quando, me virando do lado avesso pra recomeçar. E embora, com o tempo, a vida escorra pelos dedos, e os velhos sonhos se percam na poeira afora, tenho certeza que não foi por acaso, eu.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Massacre na Educação Brasileira


O Brasil hoje sofre mais um ato de violência. Poderia ter sido em um cinema, em um clube ou em qualquer outro lugar. Não foi a primeira vez e, infelizmente, não será a última. Psicopatas, psicóticos, bandidos, estupradores estão espalhados pelo mundo afora, convivem em sociedade, frequentam os mesmos lugares que nós. A violência no Brasil é escancarada e atinge nossas comunidades e nossas vidas e já não sabemos mais em quem confiar. Mas de quem é a culpa? Será que é só destes infelizes que atiram contra crianças indefesas? Não! A culpa maior é de um sistema corrupto, interesseiro e permissivo, que massacra diariamente população brasileira, às vezes até, silenciosamente, mascarando os verdadeiros assassinos, a verdadeira origem da crueldade humana. A educação brasileira, por exemplo, vem sendo massacrada. Em primeiro lugar, não há segurança nas escolas. Qualquer pessoa pode entrar e sair, bater ou matar, sem que se possa fazer nada. Os alunos são tratados como vítimas. Eles podem "tudo" e qualquer ato de violência por parte deles é tratada como "fruto de um trauma de infância", ou de suas péssimas condições de vida. Somos obrigados a "compreendê-los". Muitos roubam, agridem, perseguem,assediam e não são punidos por isso. Os professores são obrigados ao silêncio. Não podem "constranger" os estudantes e são ameaçados a perder o emprego. Os outros alunos também não denunciam. "Os pais cobram "notas", mas cobram dos professores, não dos filhos - que ironia. Quem neste mundo não tem traumas? Por que não são educados a lutar por seus objetivos, a respeitar e a enfrentar os seus próprios problemas? Por que a sociedade não consegue identificar esses assassinos como futuros "problemas" e por que as escolas tratam os alunos como "coitados", "sofredores" e "carentes", quando eles deveriam ser tratados como iguais, como cidadãos capazes de estudar, trabalhar e transformar? Por que os inocentes devem pagar por toda essa violência? Vivemos com medo, um medo gigantesco e racional. Até quando choraremos por esses "brasileirinhos", num país que tinha tudo pra ser um exemplo de humanidade? Porque o brasileiro, fruto dessa cultura educacional, é assim: solidário, mas até semana que vem, quando tudo cai no esquecimento e todos voltam pro seu mundinho fechado, cruzam os braços e deixam tudo como está.


Alice Xavier

terça-feira, 5 de abril de 2011

Meus leitores favoritos


Eu tinha medo de que meus filhos não gostassem de ler. Que não se encantassem com as palavras, as fantasias e todo universo imaginário. E por isso começei a ler pra eles, já na gestação. Contava-lhes histórias. Lia contos de fada e deixava Bach conduzir a trilha sonora, num radinho antigo próximo da cama. Já em meus braços, as histórias continuavam: reis, fadas, magos, bruxas, castelos e jardins. Pássaros encantados, deuses, heróis, beijos e sapos. O Luis se agitava, o Thiago se acalmava. Ambos gostavam.


Quando o primeiro aprendeu a escrever, fazia pequenas historias e as ilustravam em quadrinhos. Hoje, é apaixonado pela mitologia grega e lê fascinado as histórias que a contém. Um livro por dia, mesmo com déficit de atenção e difuculdade pra se concentrar na leitura. Admiro-o na sua vontade e disciplina, sempre com um livro na mão, deitado ou sentado no seu quarto, perdido em seu silêncio, encontrando um mundo só dele. Os pensamentos em processo criativo, crítico, em pleno vôo. O livro não lhe tira do jogo do computador, nem da prática de desenhar ou ouvir música. Surpreendi-me esses dias com uma fábula, escrita do próprio cunho e, mais tarde, lendo esse blog, rindo, me criticando e me elogiando, com franqueza e carinho.

O Thiago adora ouvir histórias. Adora os três porquinhos e a parte que o lobo entra pela chaminé e é surpreendido pela chama do fogo. Ama livros e histórias de bichos, leões e animais da África e não espera eu terminar a história. Levanta-se e interfere na narrativa com seus rugidos e bravas expressões, como se fizesse parte daquele mundo. Depois, ouve com atenção o fim do conto, e pede outro. Este ano, está começando a escrever. Procura as letras entre os letreiros e outdoors, os cartazes nas paredes, os livros, os jornais. Aprendeu a escrever seu nome. G só pertence a Guilherme, a nenhum outro pai. Escreveu com alegria ontem o meu nome. Mas a alegria maior era minha. A sua descoberta. A sua fascinação diante da astúcia das letras, da possibilidade de recriá-las. De repente, "e agora, mãe? Como se escreve Sarah, de tia Sarah?" Além de ser apaixonado pela matemática, e de gostar de brincar de contar, de cantar Raul Seixas, além dos bichos e dos amigos imaginários, como parte de sua realidade, ele é um leitor nato. Lê a vida com sensibilidade. Interroga-a com sabedoria.


Quem me dera ler como eles, os meus filhos. Talvez eu compreendesse melhor o mundinho deles e lhes fosse mais presente, de alguma forma. Que o mundo da leitura lhes permita entender quão importante é ser um bom leitor nos tempos de agora, pra que o preconceito e nem a ignorância façam parte de seu universo de imaginação, criação e construção da própria realidade. Para que sejam capazes de compreender o outro, respeitar as diferenças, iluminar, sonhar e amar.


Alice Xavier

domingo, 3 de abril de 2011

De todo coração

Imagem: Miguel Anselmo

No coração
a carne sangra
facas amoladas descansam sobre a mesa

de dentro dele escorre o vento
a derramar as folhas do último outono

da boca suspiram os sentimentos
todos dilacerados
salgados
pelas lágrimas que descaem pelo rosto

assim como os lagartos,
depois de um tempo
ele se regenera,
o coração

mas jamais será como antes:
dos cortes,
a cicatriz
e no peito, jaz pequenino.

Alice Xavier

domingo, 27 de março de 2011

De volta pra casa


Não era o tempo. E por mais que eu o desejasse, não deveria ser meu. Por um instante, parecia que eu o tinha em minhas mãos e, de repente, eu não tinha mais nada. Nem o perfume e nem a saudade. Volto pra casa com os sonhos na sacola. Recoloco-os na estante. Perdôo-me. Amanhã, um novo dia. E eu recomeço de onde parei.

domingo, 13 de março de 2011

Aonde está a sua felicidade??!!


Sei que parece papo de auto ajuda, mas é uma auto-reflexão diante de algumas coisas que estão acontecendo... reflitam comigo:
É bom a gente se perguntar de vez em quando: "aonde está a minha felicidade?" porque é pra lá que vamos, às vezes até, inconscientemente, fazendo as coisas corriqueiras da vida, cumprindo horários, obedecendo prazos, obrigações...
Não vivemos, talvez, certas ilusões? o corpo, o conforto, as amizades... O que conquistamos, quem conquistamos e por quê?! E o que é mais importante, ter ou ser? ser ou não ser? (that's the question!!!)
É certo que o que é bom pra mim não é o mesmo pra você, por isso a resposta a essa pergunta é única e pessoal, mas também imprescindível. Não seriam as depressões e as angústias frustrações por algo que se deseja tanto e não se tem? Materiais ou não, objetos de nossa busca constante, frutos de nosso conceito de felicidade?
Alguns desejam ir para os Estados Unidos, por exemplo. Dizem que lá terão mais conforto, mais respeito, mais dinheiro. Largam família, amigos e partem em busca da "felicidade". Outros querem um corpo perfeito, sempre encontram uma gordurinha a mais pra querer uma nova lipo, mais uma correção, mais malhação. Há aqueles que querem poder, outros querem fama e isso e aquilo e aquilo outro. E fazem desse objetivo a fonte da felicidade.
E se não for?? E se chegar lá e conseguir aquilo que tanto quis e não encontrar felicidade?? Será que paramos pra pensar nisso??! E se não conseguir, cadê a felicidade?
Acho que os objetivos e os planos e as metas e as vontades e os desejos não deveriam ser "a felicidade". Porque felicidade também é aqui e agora, onde estou, com quem estou, o que estou fazendo.
Não quero a profissão que estou agora, mas se eu não der o melhor de mim, que terá valido o dia de hoje, esse dia tão ímpar que não volta mais? E tudo o que desperdicei, dinheiro, força, voz... nada foi tão importante assim?
Por um outro ângulo, e todas as latinhas jogadas na rua, a água que eu derramei a mais na pia, o beijo sem graça que eu dei , o fora tão fora de hora, a grosseria, a falsidade... não os colherei no futuro juntos com o meu objetivo final? Porque sabemos disso: todas as catástrofes são consequências dos nossos próprios atos. As naturais, as pessoais, as sociais... E a gente querendo, querendo, querendo... mais, mais e mais...
Eu quero uma paz tão simples, filhos perto de mim, marido, minha mãe, minha vó, minhas irmãs, minhas tias, meus primos... quero publicar livros, pintar meus anseios, minha alegria, minha dor... escrever história, trabalhar tranquilo, ler livros, bordar... fazer o doutorado, publicar artigos, defender teses... quero emagrecer, me sentir bem com o corpo... ter mais uma profissão, criar criar criar...No entanto, não posso por aí minha felicidade. Tudo isso faz parte da minha vida como faz parte a dor, a perda, o sonho... a alegria, a vitória, o caminho.
Sou feliz com as travessuras, as descobertas, as benfeituras dos meus filhos, as apresentações na escola, a alegria tão sincera deles... sou feliz com o carinho do meu marido, a gente poder conversar todo dia, dormir abraçado, a reconciliação num momento de discórdia, de mágoa. Sou feliz com meus amigos, com os velhos, com os novos, com a possibilidade ser feliz ao lado deles, de rir, de descobrir de se descobrir. Sou feliz com minha família, mesmo minhas irmãs sendo tão diferentes de mim, elas são tão essenciais na minha vida, sou tão feliz por ser parte delas. Sou feliz por ter vó de 87 anos, tão viva, tão engraçada, tão mãe quanto minha mãe...
A minha felicidade não está além do hoje, naquilo que ainda quero pra mim. Serei mais feliz sim no dia em que eu conseguir tudo o que busco, mas continuarei feliz na mesma vidinha de sempre, com o meu jeito só meu de ser, mudando no que precisa mudar, crescendo no que preciso crescer, vivendo o que eu devo viver. Sempre com esperança, buscando força pra levantar, olhando pra frente, rindo da queda, pedindo ajuda pra levantar. Ajudando sempre!
Tão bom não estar sozinha...
A minha felicidade está em sentir cada segundo do dia, com tanta intensidade e poder escrever tudo isso pra me conhecer, pra me registrar, pra me purificar.
Que a gente se sinta feliz todos os dias!!!!

terça-feira, 1 de março de 2011

Pra se ter esperança...

Para Camila Queiroz, uma amiga especial.



Que a dor da saudade seja apenas um suspiro
que o silêncio que jaz sobre os olhos d'água
não esqueça os risos altos
nem a voz
o canto de outrora

Que o peito doente
da dor que punge
não seja somente esse mar de lama escura

mas o abrigo
que acolhe a luz dos que esperam
um único abraço
a última dança
sobre as pedras daquele caminho
que enfeitamos um dia
de pedrinhas de brilhante.

Que minhas mãos
sempre vazias das suas
preencha de vida os teus sonhos
pra que o amor
da gente se sustente
em luz

Quisera Deus só mais um minuto
pra dizer num beijo
o que meu coração suplica

pra não chorar mais
pra te desejar em prece genuína
amor e paz.

Alice Xavier

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Ter irmã


Às minhas irmãs, Vanessa, Michele, Sarah, Mariana (e Aninha, in memorian)

Ter irmã é de repente recordar a amizade mais linda, os tempos da infância que não voltam mais. Agarro-me saudosa nas melhores lembranças, pra jamais esquecer minhas melhores amigas. Penso nas cadeiras empilhadas formando casas de boneca, nas gargalhadas infindas ao anoitecer. Nós em cima da cama, pulando ou dançando, sonhando acordadas... coisinhas de mulher. Contando as façanhas do dia ou se escondendo debaixo dela, pra encontrar o mistério das brincadeiras e o nosso eterno sorriso de criança.
Guardo na memória as músicas, o cantarolar. O teclado envergonhado, o diário escondido, o violão exagerado... Tento esquecer os desentendimentos, as palavras ardidas e as feridas que não existem mais. Esqueço. Peço perdão e perdôo. Não há sentimento melhor no mundo que saber quão grande é o nosso amor.
Ter irmã é subir em árvores, ouvir novamente os gritos, dançar em câmera lenta quando a saudade aperta. Recitar um poema, em voz baixa, ouvir uma música e chorar. Choro de alegria, nostalgia, certeza do bem viver.
Queria dizer isso todos os dias, mesmo quando não sou tão bem vinda. Só por vocês, já valeu a vida, os sonhos meus, a arte, as palavras. Todo sentimento vem daquilo que inventamos como pacto, no olhar que só nós conhecemos.
Do meu jeito tão diferente, caminho feliz. Se o tempo ou se o espaço não nos são comuns, resta o abrigo que nos acolhe, debaixo de nossos corações. Se escrevo poemas, pinto um quadro ou invento canções, deleito-me em meu próprio jardim. Mas não há poesia sem vocês. Sigo encantada ao lado seus.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Faço versos...




Tem dias que eu faço verso
só por fazer apenas
olho seus olhos e sinto
que o verso não é meu
mas todo seu

Se queres silenciosamente me dizer
o que me vale a boca
cala tua voz e me olha
como estrela a vagar só no céu
arranca de mim o sonho
e traz a realidade do beijo
nesse meu coração incerto,
tão puro
e desejoso do seu.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Era uma vez...


Eu estava organizando caixas, pastas, documentos e velharias, quando achei esse poema, escrito há alguns anos...


Era uma vez uma criança perdida
perdida no tempo de uma saudade
saudade do tempo da infância querida
do brinquedo escondido na felicidade

Era uma vez um menino crescido
que de criança não tinha nada
guardava lembranças de um tempo querido
e mesmo homem, brincava, brincava

Um dia se esqueceu que era velho
chutou bola, soltou pipa, pulou e correu
esqueceu da saudade e da vida
deitou no tempo e morreu.

Alice Xavier

domingo, 9 de janeiro de 2011


Domingo de manhã pra mim é sagrado
É quando eu sinto o cheiro da vida
quando ainda não ligaram a televisão
nem estão ouvindo o som no último volume
nem estão rindo às gargalhadas as besteiras
costumeiras de si mesmos
é quando eu me recordo
o sábado passado
as conversas fiadas,
as interessantes,
as reveladoras.
O riso dos amigos
os copos na pia
abraços de saudade.
É domingo de manhã
que mesmo não tendo chuva
eu sinto o cheiro dela
quando o vento me acorda pela janela
ou os meninos vem me beijar
ainda estou sonhando com sabe lá o quê
e me deleito em seus braços até sabe lá que horas
porque domingo é sempre de manhã
não tenho relógios.
Abro as cortinas
a luz do dia purifica minha casa
para que eu recomece
do senso de gratidão
do conhecimento recebido
do amor compartilhado
da sensatez dos passarinhos ao vento anunciando um novo dia
pra que eu seja diariamente feliz.