Pluralidade cultural. Manifestações
culturais. Diferenças.
Diferenças
que se somam, que se misturam, que se respeitam.
Respeitam?
O ano
de 2015, ano internacional da luz, acendeu uma lâmpada na cabeça de muita
gente. Chegamos no tempo da reflexão. Do refazer. Do desfazer conceitos e
preconceitos. Do esclarecer filosofias. Do jogar as cartas na mesa. De
repensar: sou ou não sou? Do discutir em redes sociais.
Tempo
de agressões gratuitas, vídeo íntimo na internet, todo mundo no whatsapp.
Feministas
de um lado, conservadores de outro. Negros de um lado, brancos de outro.
Aborto, mulher, maconha, maioridade penal, empoderamento feminino, suco verde.
Dilma, PT, PSDB, caminhoneiro, aluno, professor.
"Boneca
na mão de menino, vale?"
"E
violência contra a mulher, é normal?"
"Não
comam carne nas segundas feiras!"
"Não
comam carne!"
"Não
comam!"
"Ou
você não quer o corpo perfeito da Giselle Bundchen?"
Pronto!
Chegamos no futuro. O futuro de Marty Mcfly e Doutor Brow, de “De volta para o
futuro”.
No
entanto... uma indagação: evoluímos?
Evolução
é assunto pra muitas aulas.
Enquanto
isso, terrorismo em Paris.
Falta
água.
E o
mosquitinho da dengue... alcançou o topo da cadeia alimentar.
Será
que já descobriram a vacina contra o Ebola?
Meninos
negros foram vítimas de genocídio pela polícia semana passada.
Uma
ciclista foi assassinada em assalto.
Filha
matou pai em algum lugar.
Pai
estuprou a filha bem aqui perto.
Uma
criança, de três anos, foi encontrada morta numa praia da Turquia, vítima da
crise migratória no outro lado do Atlântico.
Índios
foram exterminados no Brasil.
Botaram
fogo no terreiro de candomblé e foi Deus quem mandou?
"Matem
a presidente! A culpa de tudo é dela! Digam não à corrupção!"
Quem
me dera, para os problemas do Brasil, houvesse um só culpado!
E quem
me dera o Brasil fosse mesmo feito de pluralidade cultural. E que de cultura,
pudéssemos viver, nos alimentar. Quem me dera, nós pudéssemos reconhecer no
outro um pouco de nós; Descobrir semelhanças nas histórias alheias. Quem me
dera se você me respeitasse e que eu respeitasse você.
Compreender
o que é cultura é saber olhar pra origem do outro, para a cor do outro, para o
outro como parte de nós mesmos. Embora diferentes, ele sou eu, eu sou ele. Você
sou eu e eu sou você. E assim, nos tornaríamos um só se soubéssemos nos
respeitar.
Não,
não evoluímos, infelizmente.
A
educação, "a melhor arma pra mudar o mundo", ainda não é
prioridade.
Os
meus heróis vêm morrendo, todos, de overdose.
Ou
então, foram torturados na ditadura.
Não a
ditadura de cinqüenta anos atrás, não.
A
ditadura de hoje. Essa que impede que a gente estude, que a gente pense, que a
gente se expresse. Que proíbe a gente de sentir, de gritar, de mostrar as
pernas. A ditadura que impede que sejamos negros, que sejamos gordos, tímidos,
hiperativos, quietos ou inquietos, diferentes.
Não
evoluímos porque você insiste em repetir os mesmos erros.
Porque
eu sei o que é certo e eu me recuso a fazê-lo porque o errado é mais gostoso.
Não
evoluímos porque somos todos egoístas e deixamos a água derramar na nossa
cabeça durante o banho, enquanto muitos andam quilômetros debaixo de sol quente
pra encontrar uma gota que lhe mate a sede.
De
repente sinto tanto calor.
De
repente, derrubaram 2000 árvores por minuto, só na Amazônia.
Mataram
todos os peixes do Rio Doce.
Não há
rio e a lama alcançou o mar.
Ah...
quem me dera houvesse UM só culpado.
O
sacrifício seria certo e encontraríamos a salvação do mundo.
Ironias
à parte, o ano termina com o meu coração dilacerado. No entanto, poucos dias
pra acabar o ano e eu ainda tenho esperança. Porque a esperança cresce quando a
gente acredita na chama da vela, no ramo da estrada, no que minha mãe ensinou,
no que Cristo, Buda ou orixás pregaram.
A
esperança cresce quando eu vejo o brilho dos seus olhos, meninos e meninas,
senhoras e senhores que por nós passam todos os anos. Na ânsia por aprender, ou
por encontrar amigos. Na ânsia por encontrar a luz no fim do túnel, a solução
dos problemas, ouvidos pra te ouvir, coração pra te acolher... na ânsia por uma
vida melhor... alunos e alunas nos enriquecem com suas culturas e nos faz, sim,
ter esperança.
Esperança...
Por mais que os fatos negativos assombrem nossa cabeça e entristeça os nossos
corações, por mais que a gente viva sentindo medo, que a gente viva chorando,
brigando... eu tenho esperança.
Eu tenho esperança porque em 2015, nasceram em média 200.000 crianças no mundo. Todas elas com sua pureza e sua energia renovadora. Todas elas trazendo esperança.
Além
disso...
Embora
a sociedade ainda não entenda o valor da cultura e da educação, alunos ocuparam
as escolas em São Paulo pra impedir que elas sejam fechadas pelo governo.
Alunos de Goiânia também estão ocupando as escolas com o mesmo objetivo.
Professores continuam lutando por uma educação de qualidade.
Alunos de Goiânia também estão ocupando as escolas com o mesmo objetivo.
Professores continuam lutando por uma educação de qualidade.
Um
escritor, alfabetizado aos 14 anos, está lançando seu oitavo romance.
Um
gari formou sua filha em medicina.
Escola
particular não pode mais impedir inclusão.
Uma
brasileira foi premiada por pesquisa sem uso de animais.
Eu
pintei mais quadros.
Meu
marido aprendeu a meditar.
Meu
filho, a desenhar.
O outro está me alcançando na altura.
O outro está me alcançando na altura.
Meu
tio venceu um câncer.
Minha
avó fez 91 anos, com saúde.
Ganhei
mais uma sobrinha linda.
O Vitor
escreveu poemas.
A Ilda
voltou a estudar.
A dona
Eliodora desenvolveu sua leitura.
O
Kelvis está aprendendo a tocar violão.
O Igor
começou uma vida nova.
A
Letícia está mais falante.
Meu
amigo largou as drogas.
Doutores
da alegria fizeram sorrir crianças doentes nos hospitais.
Pessoas
se apaixonaram.
Filhos
voltaram pra casa.
Crianças
foram adotadas.
Apesar
do preconceito que ainda existe, o Brasil já permite casamento gay.
Tem
gente ensinando música pra crianças carentes.
Mulheres
denunciaram a violência doméstica.
Muitas
botaram a boca no trombone e relataram os primeiros assédios e as violências
sofridas por causa do machismo.
Muita
justiça foi feita.
Muito
amor também foi praticado.
Enfim...
que as boas notícias se espalhem e nos contamine.
Não é de
um dia pro outro que mudaremos a nossa história. Que a gente não espere 2016
chegar para começar uma nova vida; para fazer diferente; para escolher um
caminho melhor. Porque tudo depende das escolhas que fazemos, diariamente.
Que a
gente escolha ter esperança!
Que a
gente escolha ser forte e transformar a nossa história.
Que a
gente escolha ser melhor que o pai e a mãe foram lá atrás e não cometa os
mesmos erros que eles cometeram. No entanto, que a gente saiba perdoá-los
porque eles também estão aprendendo.
Que a
gente escolha ter fé e aceitar o amor que existe, sim, pra que a gente viva e
seja feliz!
Alice
Xavier
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