terça-feira, 14 de abril de 2015

Renascimento














Quero tudo diferente
no entanto, eu ainda costuro, com o mesmo novelo,
a casa, o telhado, o sol lá em cima
e uma estradinha que dá para o lago azul

Não me há linha de sobra
E eu preciso estar
sob os pontos e a agulha
até não sei...

Alguns nós não se desfazem
e tão depressa a vida vai
e eu permaneço inerte
como se...
não houvesse arremate no fim

De repente o tempo se
escoa...

as fotos antigas não me olham mais.
Não me reconheço!

Como recomeçar depois de tudo?
Como desmanchar cada cruz no pano?

Às vezes eu penso
que não importa que tudo se dissolva,
o importante é costurar um novo chão

Lamento
que eu não seja tão ousada

Lamento
que eu tenha feito escolhas erradas
em cada caminho

Lamento que o destino
talvez tenha cooperado
e que o meu fado
seja mesmo esse
de me espetar a cada fincar da agulha
e sentir a dor
sugar o sangue
numa incessante procura,
sem me encontrar jamais.

Alice Xavier