sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Eu preciso aprender a ser só

 
Queriam que eu fosse igual a todas as outras, mas eu vivia no mundo da lua. Queriam que eu vestisse as mesmas roupas, mas eu gostava das saias longas e das sandálias baixas. Queriam que eu cortasse mais o cabelo, mas meu cabelo queria ser livre. Queriam que eu prestasse mais atenção nas aulas, mas eu precisava desenhar. Queriam que eu aprendesse a bordar, mas eu só queria saber de cantar. Queriam que eu namorasse aquele menino engomado, de cabelo de lado, mas eu só gostei de um... ainda querem que eu saiba das marcas das bolsas, dos nomes das lojas, dos sabores dos restaurantes mais frequentados de São Paulo, dos lugares mais ousados do mundo... mas eu não me importo com nada disso e eu até queria me importar e queria ser assim e queria queria queria o que quer todo mundo todo dia... ai... eu queria só ser eu mesma e eu nem sabia... nem sabia o que eu queria. E eu fui crescendo me achando sempre diferente, a menor, a mais feia, a mais burra porque eu não era o que eles queriam que eu fosse. De repente, deixei de saber quem eu era e de gostar de mim, mas eu também não percebi que foi assim. Pedi a Deus, dei três pulinhos, joguei moeda no poço, fiz novena pra tudo quanto foi santo... acreditei nos duendes, nas bruxas, nas fadas... acendi meus incensos, recitei os meus poemas, estendi altar pra lua, pro sol... fiz músicas, cantei para as estrelas, pintei com tintas de aquarela todo o vazio que eu sentia como se borboleta fosse perdida num canteiro de flores azuis... porque eu queria ser eu... e que gostassem de mim como eu era... talvez por isso eu tivesse que descobrir outras coisas que me trouxessem prazer mas no fim... que horror!!! Será que não havia ninguém no mundo que me dissesse "tá bom assim", "fica assim", "seja você mesma"... essas palavrinhas de auto ajuda, coisa que toda amiga escreve no caderno da gente quando se tem quinze anos e não há mais nada a fazer na vida que sonhar... sonhar...
À noite eu tive um pesadelo e nele eu brigava com todo mundo e as pessoas riam de mim e eu fui perdendo o chão, fui sendo levada pra bem longe e eu não conseguia voltar. De repente eu acordei. E depois de chorar tanto assim tão doído como se fosse só eu e eu nesse mundo de ponta cabeça de Alice... eu entendi ... eu sei que não é tarde demais, mas é difícil recomeçar... acho que "eu preciso aprender a ser só". 

9 comentários:

  1. Alice, como sempre lindo texto, penso que apesar de chegarmos e sairmos desse louco mundo sozinhas, aprendemos que, do que adianta termos bolsas de marca, carros importados, muito ouro, se o que levamos conosco na partida são apenas os verdadeiros sentimentos de amor e carinho, conquistados através das grandes e marcantes amizades, momento em que aprendemos a sermos verdadeiras, pois é impossível sermos verdadeiramente AMIGO de alguém se não formos verdadeiros com nós mesmos. Por isso, as verdadeiras amizades são raras e difíceis de se manter. Assim, acredito que a nossa amizade é dessas que se iniciam sem qualquer pretensão e, com certeza, permanecerá viva para sempre, independente de qualquer obstáculo. Beijos e um forte abraço dessa sua AMIGA que te adora. Aika

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    1. Obrigada, meu amor! Nossa, que bom ler isso! ;) Bjo no coração!

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  2. Lindo o texto Alice! Me identifiquei tanto! rs bjão!

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  3. Por que as gentes insistem tanto em tornar tudo e todos tão iguais? Que mundo sem cor, sem alegria, sem novidade sem tudo fosse do mesmo jeito e as pessoas fossem todas iguais! Cada um é como é.
    Lembro de u'a música do Toquinho (para crianças) que tem estes versos:
    "...Homem e mulher, que confusão,
    Cada um é como é...
    Por fora, tudo bem, por dentro não.
    Ninguém parece com ninguém."

    Né?

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  4. (desculpe o erro na digitação... eu quis dizer: "Que mundo sem cor, sem alegria, sem novidade SE tudo fosse do mesmo jeito e as pessoas fossem todas iguais! ")

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    1. É verdade, Suzi. A gente precisa sair deste mundo e se descobrir... de repente, tudo é mais bonito!
      Um beijo!!!
      Alice

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