Cheiro de flor
é canto de bem te vi
na porteira
em dia de chuva
a gente sente
perfumar tudo
grama molhada
lama
flor machucada
barulhinho ruim
aquele
da porteira abrindo
dia de chuva
a gente sente
escuta longe
bem te vi cantando
porteira
gado no curral
olha o tempo na varanda
sente o cheiro do pito
do vô
tudo é cheiro:
o do pito dói nas narinas
água de coco
coquinho que não sei o nome
siriguela
cavalo manso
pé de goiaba
tanto o que fazer
vovó enche o saco de farinha
anda com teus passos gordos
faz biscoito até o meio dia
cheiro de queijo
de polvilho
de bolo de arroz no forno
Rita, o feijão tá queimando!
Refoga o milho
Brasil quer café!
acordo cedo
caminho na estrada
até a represa
saudade do leite tirado na hora
às cinco da manhã
ouço gritos
meninada correndo
de cocota* presa na porta
por uma linha comprida
vontade de voltar pra cidade
e assistir televisão
vontade de voltar pra fazenda
e escrever poemas
de sertão
vontade
saudade
silêncio
cheiro
fumaça
barulho
trovão
cachaça
naftalina
retrato
carta
porteira
cinzeiro
grilo
morcego
córrego
laranja
galinha
cozinhadinha
panela queimada
bica
paçoca
cural
milho verde
chuveiro gelado
banho de bacia
pedra sabão
baú
cama de meu pai...
de repente...
cheiro de flor.
Alice Xavier
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*cigarra
Seu texto desperta tantas sensações que até em mim dá saudades da fazendinha da vó Raminha.
ResponderExcluirNossa que poema lindo! A nossa cara! Vc escreve muito bem minha linda! Saudades do nosso passado! TE amo, Di
ResponderExcluirGostei do novo blog Alice!
ResponderExcluirBjo!