quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Às margens

estou sensível,
não me abraçe.
ou abraçe se puder
mas não se espante
se eu chorar
venho das águas distantes
cansada
seguindo o leito do rio
me agarrei em galhos
ora frágeis
ora fortes
desci as cachoeiras mais altas
fui amparada por pedras
e folhas
perdi-me ao fundo
voltei clamando por fôlego
repousei na calmaria comprida
e fui jogada na areia
às margens
estou sensível
não me toque
ou toque se puder
minhas mãos são leves
e não há feridas aparentes
em meu corpo
o que dói ninguém vê
suspira comigo
e me olha
simplesmente
dá-me o teu olhar mais doce
cobre-me com teu agasalho
ofereça-me um pouco d'água
pra eu beber
Amanhã sigo novamente
e mais forte,
quem sabe
os corações amigos tem isso
de nos reerguer.

Alice Xavier

Nenhum comentário:

Postar um comentário