quinta-feira, 31 de agosto de 2017

o pouco sono de mãe

Essa coisa de ser mãe
Não é fácil não
De repente lhe é dada a missão
E ela tem que ser!
Mas aí vem um brinde
Um alento
O comprimido da força
(Porque ela não pode sucumbir),
O amor.
Minha tia já dizia que
"Se a gente não amasse tanto
Matava tudo,
Os filhos”
Essa coisa de passar a noite em claro
Não é só quando o filho é bebê
Nem só quando ele já vai pra balada
Mãe perde o sono
Quando não sabe o que se passa naquela cabeça de minhoca
Nem naquele coração tão choroso por tudo
Perde o sono
Quando o filho cai
Quando sente dor
Quando precisou ser internado às pressas
Mãe perde o sono
Quando o coleguinha provoca
Quando o outro xinga
Quando a menina pisa
E a professora não acredita
Perde o sono quando não sabe
Se o filho falou a verdade
Ou de onde ele trouxe aquele
Brinquedo diferente
Mãe deixa de dormir
Quando o filho tem que se apresentar no exército
E tem medo de tudo
Tem medo quando pede pra sair
Ou quando diz que vai descer na montanha russa
E fica imaginando coisas
E só as piores coisas
Perde o sono, falta-lhe o ar,
A boca seca, o corpo deita na cama
E ela chora
Porque por inúmeras vezes
Não sabe o que fazer
Sente toda a culpa do mundo
Porque acredita que fez tudo errado
E guarda pra si toda a dor
E engole o choro
E diz pro filho que
"Tá tudo bem"
Depois chama ele no canto
E tem aquela conversa
Ou o põe naquele cantinho
Do pensamento
Que ajuda também
Ou canta aquele canto antigo
Que ela cantava na missa
quando era criança
E a mãe canta
E acredita que sua voz é mágica
E que vai salvar o filho
De todos os perigos do mundo
"Mãe é bicho besta",
Diz a minha avó
E eu não duvido
Mãe chora por tudo
Até na apresentação da escola
No dia dos pais
Mas o mais difícil
Na tarefa da maternidade
São os julgamentos
Como ferem!
“Está tampando o sol com a peneira”
cochicha aquela pessoa amada
que acha que a mãe não está ouvindo
“Protege demais”
“Entope de remédio”
“Implica com a professora”
“Embirra com o namorado”
“Deu castigo demais”
“Deu castigo de menos”
“Devia dar uma surra”
“O menino ainda vai bater nela”
“Tá criando um delinquente”
“não sabe criar”
“não sabe educar”
“não sabe ser mãe”
Rasga profundamente a alma o julgamento
E a mãe se deleita sozinha e sente...
Sente a solidão materna
E profunda
Que não tem remédio
E nem amor que alcança
Acolhe os filhos no peito
Põe pra dormir e se deita
Em silêncio.
Ser mãe dói
às vezes
feliz da mãe que pode escrever poesia.
Alice Xavier

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