terça-feira, 5 de abril de 2011

Meus leitores favoritos


Eu tinha medo de que meus filhos não gostassem de ler. Que não se encantassem com as palavras, as fantasias e todo universo imaginário. E por isso começei a ler pra eles, já na gestação. Contava-lhes histórias. Lia contos de fada e deixava Bach conduzir a trilha sonora, num radinho antigo próximo da cama. Já em meus braços, as histórias continuavam: reis, fadas, magos, bruxas, castelos e jardins. Pássaros encantados, deuses, heróis, beijos e sapos. O Luis se agitava, o Thiago se acalmava. Ambos gostavam.


Quando o primeiro aprendeu a escrever, fazia pequenas historias e as ilustravam em quadrinhos. Hoje, é apaixonado pela mitologia grega e lê fascinado as histórias que a contém. Um livro por dia, mesmo com déficit de atenção e difuculdade pra se concentrar na leitura. Admiro-o na sua vontade e disciplina, sempre com um livro na mão, deitado ou sentado no seu quarto, perdido em seu silêncio, encontrando um mundo só dele. Os pensamentos em processo criativo, crítico, em pleno vôo. O livro não lhe tira do jogo do computador, nem da prática de desenhar ou ouvir música. Surpreendi-me esses dias com uma fábula, escrita do próprio cunho e, mais tarde, lendo esse blog, rindo, me criticando e me elogiando, com franqueza e carinho.

O Thiago adora ouvir histórias. Adora os três porquinhos e a parte que o lobo entra pela chaminé e é surpreendido pela chama do fogo. Ama livros e histórias de bichos, leões e animais da África e não espera eu terminar a história. Levanta-se e interfere na narrativa com seus rugidos e bravas expressões, como se fizesse parte daquele mundo. Depois, ouve com atenção o fim do conto, e pede outro. Este ano, está começando a escrever. Procura as letras entre os letreiros e outdoors, os cartazes nas paredes, os livros, os jornais. Aprendeu a escrever seu nome. G só pertence a Guilherme, a nenhum outro pai. Escreveu com alegria ontem o meu nome. Mas a alegria maior era minha. A sua descoberta. A sua fascinação diante da astúcia das letras, da possibilidade de recriá-las. De repente, "e agora, mãe? Como se escreve Sarah, de tia Sarah?" Além de ser apaixonado pela matemática, e de gostar de brincar de contar, de cantar Raul Seixas, além dos bichos e dos amigos imaginários, como parte de sua realidade, ele é um leitor nato. Lê a vida com sensibilidade. Interroga-a com sabedoria.


Quem me dera ler como eles, os meus filhos. Talvez eu compreendesse melhor o mundinho deles e lhes fosse mais presente, de alguma forma. Que o mundo da leitura lhes permita entender quão importante é ser um bom leitor nos tempos de agora, pra que o preconceito e nem a ignorância façam parte de seu universo de imaginação, criação e construção da própria realidade. Para que sejam capazes de compreender o outro, respeitar as diferenças, iluminar, sonhar e amar.


Alice Xavier

Um comentário:

  1. Que maravilha é esse mundo, o de Alice...
    Belo também é o texto...

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