sexta-feira, 18 de maio de 2012

Palavras Encantadas


Há um certo encantamento nas palavras que ouço. Não são as suas palavras, ditas a todo instante, sob os meus ouvidos. Não são as palavras do mundo que ouço. Eu falo das palavras que vêm não sei de onde, das cortinas abertas para o clarão do sol, quando de madrugada ele tende a iluminar. Elas vêm de dentro quando parece que a loucura ou a confusão dos sentidos me parecem aguçar. Vejo o que não existe, sinto cheiro de coisa que não há...
Ouço palavras como muriçocas a zumbir exacerbadas ou como os espíritos a ditar cartas dulcificadoras. Essa incoerência de manifestações cruzam o meu entendimento, e impreterivelmente, preciso de papel e lápis, ou de um computador. E as palavras, finalmente, escritas, são como alívio para minha mente, tão confusa às vezes. Essa que comunga diariamente com a minha vontade de fazer mais do que posso ou de entender a vida, mais do que ela pode ser.
Há um certo encantamento nas palavras que escrevo. Não são as minhas palavras, ditas a todo instante, sob os seus ouvidos e nem as palavras do mundo. E eu não as conheço. A elas, sou apresentada no mesmo instante em que elas nascem, em que se formam, como balão a se encher de ar ou como estrela a jorrar no céu em constelação. Misturam-se tantas vezes entre os ramos das árvores e os bicos dos pássaros, a chuva e o barulho do trovão. Deixo, no entanto, que se entreguem ao fogo dos meus desejos e, metamorfoseando-se em breves caminhos, vão rumo às mentes, que como as minhas, sentem fome de palavras.
Há um certo encantamento nas palavras. As palavras não me são. Eu é que me faço delas, vez ou outra, pra iluminar minha escuridão.

2 comentários:

  1. Escrever é um exercício de felicidade. Mas também se presta para um desabafo, exorcizar uma angústia ou, como você prefere, "para iluminar minha escuridão." Gostei.
    Abrçs

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